CNBB - Rede Celebra - Revista de Liturgia - Ficha 14 - Pe.
Marcelo Rezende Guimarães
As primeiras comunidades, como testemunha o Apocalipse,
tinham uma oração muito curta que expressa bem o desejo do seu coração:
Maranatha! Vem, Senhor Jesus! (Ap 22,20). Infelizmente, depois, foi se perdendo
e esvaziando este desejo de espera.
Seríamos muito pobres se reduzíssemos o Advento,
simplesmente, a um tempo de preparação para a festa do Natal. O Advento é
baseado na espera da vinda do Reino e a nossa atitude básica é acender e
renovar em nós este desejo e este ânimo.
Num tempo marcado pelo consumo, é preciso que afirmemos
profeticamente a esperança. No âmbito pessoal, intensificando o desejo do
coração e retomando o sentido da vida. Mas as esperanças são também coletivas:
é o sonho do povo por justiça e paz - "as espadas transformadas em arado e
as lanças em podadeiras" (Is 2,4). E são também cósmicas: "a criação
geme e sofre em dores de parto até agora e nós também gememos em nosso íntimo
esperando a libertação" (Rm 8,18-23).
Cantar como resposta das preces "Vem, Senhor
Jesus" pode ajudar a animar a esperança de nossas comunidades. Igualmente,
depois da acolhida de quem preside, a comunidade poderia lembrar fatos e
acontecimentos (não ainda preces ou intenções) que são para ela sinais de
esperança e da vinda de Deus entre nós. Podem ser trazidos símbolos que evoquem
tal luta ou acontecimento. Algum refrão, como "eu quero ver, eu quero ver
acontecer", certamente contribuiria para renovar a esperança.
"O melhor da festa é esperar por ela", diz um
ditado popular. A espera e a preparação de um acontecimento é, do ponto de
vista humano, tão importante quanto este evento.
Daí a necessidade de fazermos uma avaliação do que significa
e de como vivenciamos o tempo do Advento em nossas comunidades. Seria oportuno
se as equipes de liturgia, ao prepararem as celebrações deste tempo, pudessem
se colocar a seguinte questão: que importância damos ao tempo do Advento?
Vale aqui também lembrar o que escreve o liturgista Frei
José Ariovaldo da Silva, na revista "Mundo e Missão", dezembro de
2004: "Atualmente, muitas comunidades eclesiais, influenciadas pela onda
consumista por ocasião das festas natalinas e de final de ano, estão assumindo
o custume de enfeitar suas igrejas já bem antes de o Natal chegar. Em pleno
tempo de Advento, que é um 'tempo de piedosa e alegre expectativa', já
ornamentam suas igrejas com flores, pisca-piscas, árvores de Natal e outros
motivos natalinos, como se já fosse Natal. Posso dar uma uma sugestão? Não
sejam tão apressadas. Não entrem na onda dos símbolos consumistas da nossa
sociedade. Evitem enfeitar a igreja com motivos natalinos durante o Advento.
Deixem o Advento ser Advento e o Natal ser Natal. Enfeites natalinos dentro da
igreja, só quando Natal chegar. Então, a festa com certeza será melhor.
Sobretudo se houver na comunidade uma boa preparação espiritual".
É preciso tomar o cuidado de não abortar o Advento ou de
celebrá-lo superficialmente. Este cuidado nos levará a não antecipar o Natal,
seja fazendo celebrações natalinas antes do previsto, seja usando ritos
próprios da festa. Se cantamos "Noite Feliz" no dia 15 de dezembro, o
que iremos cantar na noite do dia 24 para 25? Mas, também não podemos celebrar
o advento como se Cristo ainda não tivesse nascido. A longa noite da espera
terminou. O mundo já foi redimido, embora a história da salvação continue...
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